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Big data e o futuro da medicina preventiva

6 da manhã. O despertador toca. A vontade de dar aquela “esticadinha” é maior do que tudo. Simples! É só apertar o botão “soneca” e tudo está resolvido! Depois daqueles 10 minutos extras que duraram aparentemente apenas um piscar de olhos, é hora de acordar. A tela do celular, que acabou de cumprir a função de relógio e despertador, também passa a informar se a noite de sono foi boa. Ele diz que aquela piscadinha em formato de cochilo não está fazendo muito bem para a sua saúde.

Saúde! É hora de fazer uma caminhada antes de ir trabalhar, afinal, o super app fit acabou de avisar que você precisa cumprir sua meta diária de exercícios. Os dados mostram que você está se aplicando, pois está dando vários passos por dia. Isso é bom para melhorar a sua qualidade de vida. Os seus batimentos cardíacos estão mais regulados segundo o smartwatch, que também acaba de mostrar uma notificação do diretor comercial. Ele quer saber sobre o relatório que deveria ter sido entregue no dia anterior. O coração dispara e dessa vez não precisou nem do wearable para perceber a aceleração. Agora é melhor usar o dispositivo apenas para ver a hora mesmo, voltar para casa, tomar um banho e ir resolver esse problema.

Esse foi um exemplo bem curtinho de como a tecnologia tem estado cada vez mais presente na vida das pessoas no que se refere à saúde, sendo importante aliada no monitoramento de dados e estímulo de ações voltadas, em especial, para a medicina preventiva. Bons hábitos, saúde mais forte.

 

Amazon Echo – Smart Speaker | Foto: Classen Rafael / EyeEm/Getty Images

Comprar um Apple Watch pode até ser questão de status para alguns, mas também tem se tornado questão de saúde. Menos doenças significam menos consultas, menos remédios e menos cirurgias. Desse ponto de vista, fica até barato pagar 300 dólares em um dispositivo tecnológico se no final o resultado é viver mais e melhor.

Se esses dispositivos têm trazido vantagens para o cidadão comum – e sim, sabemos que o “comum”, por questões financeiras, significa pertencer no mínimo à classe média no contexto atual, mas traremos aspectos relativos à democratização do acesso a esses dispositivos mais adiante – imagine o impacto positivo que a tecnologia pode gerar no bolso das grandes organizações?

A assistência à saúde é uma área que demanda, anualmente, bilhões de dólares de governos e instituições de saúde. Para se ter ideia, uma pesquisa realizada pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) mostra que os custos assistenciais – que incluem, por exemplo, despesas com consultas, procedimentos e exames –  das operadoras brasileiras devem chegar a R$ 383,5 bilhões até 2030, um aumento de 157,3% em relação aos dados de 2017.

 

Diante desses números, os gestores da área de saúde estão dando prioridade máxima à redução dos custos assistenciais em suas operações. Uma das formas de reduzir os números é justamente através da ampliação da medicina preventiva. Na era dos dados e da I.A. (inteligência artificial), é evidente que gigantes da tecnologia estão extremamente atentos a esses indicadores e irão fazer de tudo para participar desse mercado bilionário.

VALOR DOS DADOS: DATA IS KING

Com informações relevantes sobre atividades físicas, alimentação e hábitos saudáveis disponíveis a qualquer hora do dia, é possível traçar o perfil de cada indivíduo e entender as probabilidades do avanço de doenças. Também se torna extremamente viável o entendimento das condições de saúde em determinadas faixas etárias, em determinadas regiões e em determinados grupos. O volume imenso de dados semiestruturados, a velocidade como essas informações são coletadas e a variedade de fontes possíveis torna as possibilidades infinitas.

Os dados são o “novo petróleo” da atualidade. Quem tem dados, domina mercados. 

Com o monitoramento contínuo e a integração de fontes de dados, é possível desenvolver modelos preditivos, o que viabiliza, por exemplo, o planejamento de atendimentos personalizados, a sugestão de novas atividades físicas e, é claro, a venda de planos de saúde desenhados para pessoas de maneira individual e exclusiva.

Entender os dados comportamentais de indivíduos ou grupos da sociedade é ter nas mãos o “novo petróleo” da atualidade. O valor do big data para as grandes organizações, em alguns momentos torna-se imensurável, se levado em consideração a gama de oportunidades e negócios que podem ser gerados.

Nesse sentido, “data is king” (“informação impera”, em uma tradução livre). Quem tem dados, domina mercados. 

GRANDES PLAYERS QUE PODEM DISRUPITAR O MERCADO

Não é à toa que os grandes conglomerados de tecnologia têm investido todas as forças no desenvolvimento de soluções que aumentem a velocidade das conexões e na produção de dispositivos IoT (Internet of Things). O objetivo é alcançar maior eficiência na coleta de dados pessoais.

 

O big data já é amplamente utilizado em diversas vertentes de negócio para identificar personas e entregar produtos e serviços de acordo com esses perfis. É igualmente aplicado em larga escala, a fim de produzir conteúdo e publicidade que fale diretamente com o target, gerando maiores conversões de venda.

Pare e pense em todo esse universo de possibilidades em medicina preventiva que falamos anteriormente. Junte isso às oportunidades de negócio e as possibilidades de publicidade. O resultado é impressionante.

Imagine a seguinte situação. Você tem seus dados cardíacos monitorados diariamente através de seu smartwatch. Essas informações, já compiladas há algum tempo na nuvem, indicam que algo não está legal e que você precisa se cuidar.  Pela manhã, você acorda ao som da voz da Alexa, a assistente de voz inteligente da Amazon. Ela te deseja um bom dia e recomenda a realização de atividades físicas e… Um plano de saúde desenhado para o seu perfil que vai te permitir realizar aquela bateria de exames necessária, além de possibilitar um acompanhamento contínuo com foco nos problemas detectados! E mais! Seus dados bancários, scores e muito mais, com certeza também já fazem parte desse apanhado de informações, então a Alexa vai te oferecer um plano de acordo com o seu perfil socioeconômico para que o mesmo tenha um valor atrativo para você. A chance de conversão? Nem preciso dizer: altíssima!

Em uma breve exemplificação, já podemos vislumbrar um dos grandes players do mercado, a Amazon, que em um estalar de dedos pode disruptar a área da medicina preventiva e transformar para sempre o modo como encaramos a saúde pessoal. Eles têm a faca e o queijo na mão: dispositivos, milhões de dados, inteligência artificial, supply chain completa e um consumidor entusiasta.

Foto: Divulgação

E não é só a Amazon que está nessa “brincadeira”. Uma breve pesquisa mostra que outras empresas como Apple, Xiaomi e Samsung tem investido pesado em werables e outras tecnologias em IoT. Segundo a IDC, em 2019 foram vendidos 92,4 milhões de unidades de relógios inteligentes, um aumento de 23% em relação ao ano anterior. Já pulseiras fitness foram vendidas, no mesmo período, em um montante de 69,4 milhões de unidades, um aumento de 37% se comparado a 2018. Outro número que nos chama a atenção é que 73% das vendas da Xiaomi em 2019 foram de pulseiras fitness.

Empresa

Envios em 2019

Participação de mercado

Variação em relação a 2018

Apple

106,5 milhões

31,7%

+121,7%

Xiaomi

41,7 milhões

12,4%

+78,8%

Samsung

30,9 milhões

9,2%

+153,3%

Huawei

27,9 milhões

8,3%

+148,8%

Fitbit

15,9 milhões

4,7%

+14,8%

Outras

113,5 milhões

33,7%

+63,7%

Fonte: IDC Worldwide

São milhões de novos usuários sendo monitorados em apenas 1 ano. Tem dúvidas de que a transformação exponencial já está acontecendo?

Hoje, grandes os conglomerados de tecnologia possuem informações suficientes para influenciar até mesmo eleições presidenciais em países importantes (não vamos debater política por aqui, mas a título de curiosidade, assista “Privacidade Hackeada” na Netflix), então por que não usar esses dados para beneficiar a saúde da população e ajudar médicos em diagnósticos mais precisos? É um cenário extremamente promissor, que possui altas demandas e ainda é muito pouco explorado pelas indústrias da saúde, tecnologia e marketing.

Na era dos dados e da I.A. (inteligência artificial), não é mais uma questão de “se” vai acontecer ou não, mas sim como isso vai acontecer e quando esse modelo vai se tornar dominante.

DEMOCRATIZAÇÃO E ACESSO À TECNOLOGIA NO FUTURO

Como já foi falado, esse é um mercado bilionário. Mas para alcançar bilhões de dólares, se faz necessário ter dados de um maior número pessoas e em velocidades mais altas. Como conseguir isso? Simples. Vendas passam a se tornar serviços e o que antes era uma grande fonte de lucros – e continuará logicamente sendo – passa a ser encarado também como uma gigantesca fonte de dados que possibilita um faturamento ainda maior.

Vamos entender melhor como serviços podem democratizar o acesso aos dispositivos. De um lado, existe hoje um modelo convencional de vendas pelo qual você simplesmente compra um objeto, como por exemplo, um smartwatch. Uma nova aquisição só irá ser realizada depois de em média 1,6 ano. Entrada de dinheiro única que demanda muita publicidade, P&D (pesquisa e desenvolvimento) para concorrer com outros grandes players, constantes facelifts que muitas vezes não agradam, entre outros fatores que geram custos elevadíssimos.

Por outro lado, por que não reduzir os custos dos dispositivos, para que eles sejam comprados por um número maior de pessoas, aumentando a presença destes na vida dos indivíduos e, consequentemente, potencializando a coleta de dados que, além de reduzir custos de conversão em publicidade, podem proporcionar a venda de produtos e serviços não sazonais, como planos de assistência em saúde? Faturamento mensal, recorrente e que cria fidelidade e provavelmente lealdade não só a um produto, mas sim a um ecossistema completo de soluções.

Esse formato, que tem como foco o serviço agregado, com certeza será adotado em breve e certamente irá viabilizar o acesso à tecnologia para as populações de baixa renda. É bem provável que wearebles relacionados à saúde sejam barateados ou até mesmo fornecidos a custo zero por empresas de tecnologia. Afinal, mais dados representam mais possibilidades e mais faturamento.

 

Os modelos de negócio que democratizam o acesso à soluções, focando não na posse e sim na experiência, são mais que conhecidos nossos e tem se mostrado fortes. Na Netflix você não compra filmes, você tem acesso a eles a hora que quiser e a um custo totalmente acessível. Através do Uber podemos ir onde quisermos pagando apenas pela viagem, com custos proporcionais à demanda do horário, favorecendo uma grande cadeia de fornecedores de serviços de transporte. Bom, não vamos listar aqui todas as empresas que estão disruptando indústrias inteiras. Fica evidente que em uma área tão essencial como a de medicina preventiva, essa transformação já está batendo na porta.

IMPORTÂNCIA PARA A SOCIEDADE

É lógico que esse cenário favorece não só os grandes conglomerados, mas também a sociedade como um todo. A medicina preventiva é com toda certeza uma das melhores ações para reduzir a chance de doenças e diminuir o agravamento de quadros clínicos.

Os esforços para a democratização de dispositivos para monitoramento de dados vitais e comportamentais favorecerão diversas pessoas, pois aumentarão a eficácia de ações de conscientização e permitirão uma atuação direta na saúde e bem-estar de indivíduos e da sociedade em geral. Com dados, é possível traçar perfis claros de grupos segmentados, possibilitando assim um melhor trabalho por parte de organizações de saúde, governos e entidades do terceiro setor, que poderão atuar de maneira mais assertiva na criação de programas assistenciais e afins.

Talvez, se hoje tivéssemos no mundo pelo menos 30% de pessoas usando wearables que realizassem medições contínuas de temperatura, ajudando a monitorar constantemente o estado de saúde de pessoas e as notificando para que as mesmas seguissem isoladas ou não, as quarentenas aplicadas para impedir o avanço do coronavírus pudessem estar sendo mais eficazes. É claro que há muitos outros fatores por trás disso, mas é uma questão a se pensar.

RISCOS DESSE MOVIMENTO

Foto: Envato Market

Então deveríamos monitorar a todos? E os dados, pertencem a quem? Eu quero fornecer meus dados? São questões que já dominam vários estudos, colunas de jornal, portais e revistas. Privacidade é o primeiro ponto tratado quando o assunto é informação pessoal coletada.

Nesse campo, devemos considerar que a evolução contínua também está presente. Um grande exemplo, que ainda está sendo amplamente debatido no Brasil, é o Marco Civil da Internet e a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Na Europa também podemos observar resultados positivos, negativos e ajustes na pioneira GDPR (General Data Protection Regulation). São pontos que vão requerer cautela das autoridades, mas que certamente irão caminhar para um senso comum. Novas entidades regulatórias, leis e políticas vêm surgindo a cada dia para agregar na construção de um modelo estável para um futuro próximo no qual a balança entre coletor de dados e fornecedor de dados seja equilibrada.

Toda a evolução tecnológica traz consigo tons de desconfiança, medo e repúdio. Mas, na maior parte dos casos, quando usadas de maneira positiva, beneficiam toda uma sociedade.

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